Aquecimento global é fogo
Agência FAPESP – O fogo aquece – e mais do
que se imaginava. De acordo com um artigo publicado na edição desta sexta-feira
(24/4) da revista Science,
o efeito do fogo nas mudanças climáticas globais é mais profundo do que se
acreditava e deve ser encarado com preocupação ainda maior do que a atual.
O artigo aponta o que a
ciência sabe e o que desconhece a respeito do impacto do fogo na
biodiversidade, clima e reservas de carbono do planeta e destaca que as
queimadas ligadas ao desflorestamento são responsáveis por cerca de 20% do
aquecimento global promovido pela ação do homem.
“O total pode aumentar em
pouco tempo. Está muito claro que o fogo é um catalisador primário das mudanças
climáticas globais. O artigo que escrevemos é um chamado à ação para que os
cientistas investiguem e avaliem melhor o papel do fogo no sistema terrestre”,
disse Thomas Swetnam, da Universidade do Arizona, um dos autores.
O texto é assinado por um
grupo internacional de pesquisadores, entre eles Paulo Artaxo, professor
titular e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da
Universidade de São Paulo, coordenador do Programa de Grande Escala da
Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e ex-coordenador da área de geociências da
FAPESP.
Os autores apontam que
todos os episódios de queimadas e incêndios combinados liberam na atmosfera uma
quantidade de dióxido de carbono equivalente à metade de tudo o que deriva da
queima de combustíveis fósseis.
Os cientistas alertam que a
capacidade do homem de lidar com o fogo pode cair no futuro, à medida que as
mudanças climáticas alteram padrões de queimadas e incêndios. O risco,
entretanto, é difícil de avaliar, uma vez que os fogos estão ainda
precariamente representados em modelos climáticos globais.
Mas eles ressaltam que, na
última década, incêndios de grande dimensão e difíceis de controlar ocorreram
em todos os continentes em que há vegetação disponível, independentemente dos
programas de combate a tais episódios desenvolvidos em diversos países.
“O fogo é obviamente uma
das principais respostas às mudanças climáticas, mas ele não é apenas isso, ele
retroalimenta o aquecimento, que alimenta mais fogos”, disse Swetnam. A fuligem
liberada na atmosfera também contribui para o aquecimento.
Quando a vegetação queima,
a quantidade de dióxido de carbono liberado aumenta o aquecimento global. Quanto
mais incêndios e queimadas, mais dióxido de carbono é liberado e mais
aquecimento é promovido. E, quanto mais elevadas as temperaturas no planeta,
maiores são as chances de se ter mais fogo.
Os autores pedem que
iniciativas como o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
reconheçam a importância do fogo nas mudanças climáticas e o integrem mais
adequadamente em modelos e relatórios futuros.
“O fogo é tão elementar
como o ar e a água. Nós vivemos em um planeta de fogo. Somos uma espécie do
fogo. Ainda assim, seu estudo tem sido muito fragmentado. Sabemos bastante
sobre o ciclo do carbono e do nitrogênio, mas muito pouco sobre o ciclo do fogo”,
disse Jennifer Balch, do Centro Nacional para Análises e Sínteses Ecológicas em
Santa Bárbara, Estados Unidos.
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